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Se houvesse uma igreja nessa vizinhança esquecida por Deus,
os sinos já estariam em silêncio no momento em que cruzei a porta. A fumaça no
interior do apartamento tinha gosto de lembrança. Uma memória por vez, conforme
eu inalava mais e mais daquela densa nuvem cinza. Memórias de dias que ainda
estavam por vir, memórias de um futuro distante. A música baixa se mesclava com o ambiente,
não conseguia distinguir as palavras da letra, mas a melodia me agradou.
A luz bruxeleante de uma tv ligada fazia com que as sombras multicoloridas dançassem ao redor da pequena sala. Eu amava a sensação de decadência que aquele apartamento me causava. Era como se eu e ele fôssemos partes de um todo, nos completássemos, era ali apenas que eu podia chamar de casa. E por mais que eu negasse, era por ela que eu podia chamar aquele lugar de casa.
Uma garrafa meio cheia – sempre me considerei um otimista – ainda estava aberta na mesa. Deixei as chaves caírem com um som seco ao lado da garrafa e deixei que me minha visão se adaptasse ao redor. Não demorou até que me deparasse com a silhueta deitada no sofá, de costas para a porta por onde eu entrara. Os movimentos amenos e constantes do corpo denunciaram seu estado de sono. Nesse momento a televisão jorrava luz clara na sua direção, pude ver que ela estava vestida com uma das minha camisetas favoritas, e apenas isso. Os cabelos embolados entre os dedos das mãos davam a ela um ar quase infantil, inocente, no meio de toda aquela podridão, embora eu soubesse muito bem que aquele rosto que me causava tantas emoções distintas ainda estaria com resquícios de sua maquiagem noturna.
A luz bruxeleante de uma tv ligada fazia com que as sombras multicoloridas dançassem ao redor da pequena sala. Eu amava a sensação de decadência que aquele apartamento me causava. Era como se eu e ele fôssemos partes de um todo, nos completássemos, era ali apenas que eu podia chamar de casa. E por mais que eu negasse, era por ela que eu podia chamar aquele lugar de casa.
Uma garrafa meio cheia – sempre me considerei um otimista – ainda estava aberta na mesa. Deixei as chaves caírem com um som seco ao lado da garrafa e deixei que me minha visão se adaptasse ao redor. Não demorou até que me deparasse com a silhueta deitada no sofá, de costas para a porta por onde eu entrara. Os movimentos amenos e constantes do corpo denunciaram seu estado de sono. Nesse momento a televisão jorrava luz clara na sua direção, pude ver que ela estava vestida com uma das minha camisetas favoritas, e apenas isso. Os cabelos embolados entre os dedos das mãos davam a ela um ar quase infantil, inocente, no meio de toda aquela podridão, embora eu soubesse muito bem que aquele rosto que me causava tantas emoções distintas ainda estaria com resquícios de sua maquiagem noturna.
Sentei à mesa e completei o copo meio vazio. Era meu esporte favorito, observá-la dormir. Talvez ela soubesse que eu estaria aqui hoje, mas não era isso o importante. A música ao longe ainda tocava, sem que eu pudesse saber de onde. O aparelho de tv ainda brincava com as sombras da sala. O copo ainda se esvaziava. E eu ainda a observava. A noite lá fora corria, como era o típico dessa região mesquinha. Aqui dentro o tempo parecia reduzir a velocidade, até quase parar. Aqui era minha casa, ela era minha casa.
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