Feb 14, 2015

Uma festa de momentos.

O texto de hoje é curto, sábados de carnaval costumam ser corridos.


O carnaval é, além de tudo, um ótimo espaço de observação. É assim que me dou conta de mim mesmo, parado em um dos muitos blocos da cidade  Acordo minha percepção e olho para um casal recém-formado. Dois rapazes não muito mais jovens que eu. A paixão instântanea se consome com ferocidade entre eles. 
 Tudo começa com um sorriso, um sussurro e se desenrola em um beijo lento, insaciável, contínuo. O amor de uma vida, vivido em um minuto. Invejo a capacidade deles de se perderem nos lábios de seu parceiro, como se nada mais importasse, mesmo que só por aquele instante. Buscam um ao outro com sede,  explodem em um único momento.  Olham-se nos olhos, sorriem mais uma vez. O índio dá as costas e some na multidão. A fada retorna sorridente pra seus amigos dançando uma música qualquer. 


Feb 13, 2015

Sexta-feira 13

Eu sempre acho que vou morrer. Acho que é pra me não decepcionar quando acertar um dia desses. A solidão em grupo sempre combinou com carnaval pra mim. Escrevi essa crônica na minha cabeça, torcendo pra não esquecer dos detalhes, enquanto cantarolava um samba no engarrafamento da Pres Vargas.




O carro já estava longe quando ouviu os tiros. Na hora não soube que eram tiros. Ouviu apenas os barulhos. Imaginou que fossem tiros.  Já estava em pé naquele bendito ponto de ônibus por 40 minutos. Esteve em pé. Agora caía. E só ficara tanto tempo esperando o ônibus por culpa dela. A baldeação, que era sua opção à esperar o ônibus tão demorado, significava mais risco de esbarrar com ela. Os tiros eram culpa dela. Típico.

Enquanto caía não pensou em nada além da queda. E caiu. Nesse momento percebeu que uma pequena multidão de curiosos  se aproximava. Tentou falar que estava bem, já soferera dores maiores. As palavras não encontravam forma de saída. Riu da situação. Típico.

Véspera de carnaval. Trabalhara até o turno da noite. Já nem pensava mais nela. Já nem pensava na festa. Já nem pensava.  Agora a dor começava. Não sabia qual dor. Mas doía. Os curiosos iam se juntando. Ele só tentava compreender. O carro. Os tiros. Sempre achara  que se morrese nesse lugar o responsável seria algum motorista de ônibus errando a velocidade na curva. Se enganara. Típico.


Passou outro carro. Já deviam ter passado outros. Mas não reparou. Reparou nesse. Passou tocando um samba antigo. Começou a gargalhar, apenas em sua propria cabeça, já não tinha força para mover sua face. O carro se foi. Uma lágrima brotou de seu olho esquerdo e se desfacelou junto ao cimento da calçada. Ela sempre odiara samba. Riu mais da ironia. Sua boca se moveu e se abriu num leve sorriso, enquanto a música se repetia continuamente em sua cabeça, até se desfazer contra o nada. Como uma lágrima na calçada. E se foi, sorrindo, numa sexta-feira de carnaval. Ouvindo seu samba favorito.